terça-feira, 1 de junho de 2010

Boa pergunta.





  O que é que se consegue quando se fica feliz?, sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana,
  Repita a pergunta...?
Silêncio. A professora sorriu arrumando os li­vros.
  Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.
  Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? — repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a surpresa.
  Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras...
  Ser feliz é para se conseguir o quê?
A professora enrubesceu — nunca se sabia di­zer por que ela avermelhava. Notou toda a turma, mandou-a dispersar para o recreio.
O servente veio chamar a menina para o gabi­nete. A professora lá se achava:
  Sente-se... Brincou muito?
  Um pouco...
  Que é que você vai ser quando for grande?
  Não sei.
  Bem. Olhe, eu tive também uma idéia — corou.
  Pegue num pedaço de papel, escreva essa pergunta que você me fez hoje e guarde-a durante muito tempo. Quando você for grande leia-a de novo. — Olhou-a. — Quem sabe? Talvez um dia você mesma possa respondê-la de algum modo... — Perdeu o ar sério, corou. — Ou talvez isso não tenha importância e pelo menos você se divertirá com...
  Não.
  Não o quê? — perguntou surpresa a pro­fessora.
  Não gosto de me divertir, disse Joana com orgulho.
A professora ficou novamente rosada:
  Bem, vá brincar.
Quando Joana estava à porta em dois pulos, a professora chamou-a de novo, dessa vez corada até o pescoço, os olhos baixos, remexendo papéis sobre a mesa:
— Você não achou esquisito... engraçado eu mandar você escrever a pergunta para guardar?
  Não, disse. Voltou para o pátio.

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